No Livro dos Espíritos, Kardec pergunta qual é o maior dos males que existe sobre a Terra. Se você pensa que a resposta foi o assassinato, o suicídio ou o aborto se enganou. A resposta foi a seguinte: o egoísmo.
Enquanto vocês não perceberem que a essência espiritual é sentimento, que a essência do espírito está na energia que se emana na criação dos atos exteriores, continuarão presos a uma dicotomia “bem” e “mal” equivocada, humanizada. Confundimos atitude com ato. A atitude é uma ação interior (aqui reside o livre-arbítrio), enquanto o ato é uma ação exterior (criada por Deus a partir da Lei de causa e efeito). Eu posso ter uma atitude egoísta ou de amor diante de um fato, por exemplo, um acidente, um assalto, um assassinato etc., o ato exterior criado como provação para os espíritos. O nosso livre-arbítrio se concentra no domínio da atitude, mas não na do ato. O ato será aquele que o outro precisa receber. Este está relacionado ao gênero de provas que o outro escolheu vivenciar ou precisa passar, por alguma razão que só Deus o sabe.
Sei que não é fácil compreender que o “bem” e o “mal” estão na energia emanada e não nos atos. Isso é muito abstrato para vocês, mesmos para os espiritualistas. E não digo que só os encarnados não compreendem esse processo, a maior parte dos desencarnados que ainda lutam para se livrar do egoísmo também não entendem isso. Mas Deus permite que se expressem e escrevam livros psicografados com informações de que alguém morre antes da hora prevista, que Deus permite que alguém, encarnado ou desencarnado, interfira na vida do outro, que temos pleno controle sobre nossos pensamentos e atos etc. mesmo que tais informações não apareçam, em nenhum momento, no Livro dos Espíritos, texto que apresenta a relação entre o mundo espiritual e o material, o objetivo primordial do espiritismo, que não é “A doutrina” ou “A religião”, mas apenas uma das faces do espiritualismo, como Kardec bem compreendeu e definiu na introdução do Livro dos Espíritos.
Então, concentrem-se e se esforcem para lutar contra o egoísmo, pois ele é a essência de todos os males da terra. Assim, se ele é o “mal”. Onde está o “bem”? No Amor universal, no Amor incondicional.
Compreendendo e colocando esse ensinamento em prática, será mais fácil aceitar que todos os fenômenos do mundo material serão “bons” ou “maus” segundo as circunstâncias, pois são ilusórios. Eu disse ilusórios e não irreais. Para vocês, espíritos humanizados, eles são bem reais, pois vocês estão programados para sentir, perceber e racionalizar sobre eles. Porém, são apenas energias concentradas e manipuladas pelo sentimento emanado por cada um de vocês.
Vamos pegar um exemplo radical. Todas as religiões, sem exceção, condenam o aborto. Porém, há espíritos que precisam passar pela experiência do aborto. Muitos se encontram atormentados pelo remorso moral, e Deus permite que tais espíritos sejam ligados a um corpo que será abortado ainda na condição de feto. Dessa forma, ao retornar à pátria espiritual, com a memória anterior esquecida, sua recuperação é facilitada.
Assim, minha pergunta é: todo aborto deve ser condenado? Se o aborto é um instrumento de Deus para ajudar a aliviar o sofrimento de alguns espíritos, por que condená-lo pura e simplesmente? O aborto condenável é o voluntário, ou seja, feito com sentimentos egoístas. Um aborto espontâneo ou natural não é condenável, porém, como as religiões condenam todo e qualquer tipo de aborto, inúmeras são as mulheres que sofrem quando acontece um aborto espontâneo, sentindo-se castigadas por Deus etc. porque as religiões simplesmente condenam o aborto e não esclarecem que o aborto também é um instrumento que Deus disponibiliza para a evolução de seus filhos.
O mesmo acontece com todos os demais acontecimentos traumáticos como o assassinato, o suicídio etc. Obviamente, Moisés precisava instituir o “não matarás” porque a humanidade, naquela época, não estava preparada para compreender que matar sem intenção, ou acidentalmente, não gerava pecado. O matar sem sentimentos egoístas é apenas um instrumento para o retorno de um espírito à sua verdadeira pátria, no dia certo e no momento certo. Por exemplo, diariamente, no mundo todo, temos motoristas com lapsos de atenção por alguns segundos invadindo a pista contrária e batendo de frente com outro carro, desencarnando várias pessoas. Isso foi por acaso? Claro que não, os trabalhadores espirituais tem o controle da situação e são orientados por Deus para saber quem precisa desencarnar e de que maneira. Deus sabe, antecipadamente, a hora e a forma da morte de cada um. Você pode até ser religioso, mas não tem Fé em Deus se não acreditar nisso. Se disser da boca para fora que Deus é a inteligência suprema e a causa primária de todas as coisas e continuar acusando o próximo de tê-lo ofendido, tê-lo feito sofrer... Então sua fé pode até ser raciocinada, mas não é plena. Não é uma entrega incondicional aos desígnios de Deus. Se continuar acreditando no acaso, na contingência, idem.
Vejam que no capítulo sobre o suicídio, nO Livro dos Espíritos, a resposta sempre trata de suicídio voluntário. Ou seja, quando há intenção de tirar a própria vida, quando o ato é motivado por sentimentos egoístas, o suicídio é contrario às Leis de Deus e, portanto, gerará carma para o espírito. O que isso quer dizer? Que o espírito não sofre porque se suicidou, mas sofre devido à dor moral, ao egoísmo do qual ainda não se libertou. E por que vai para o que vocês chamam de “vale dos suicidas”? Porque ele continua humanizado, ou seja, preso ao ego. Ele se sente culpado ou ainda culpa alguém pelo seu ato. Novamente, a raiz do sofrimento está no egoísmo. Obviamente que este espírito não está mais encarnado, mas ainda se encontra humanizado. Podemos dizer que sua provação e expiação, relacionadas com sua última encarnação ainda não terminaram, daí preferirmos falar que o espírito se humaniza quando inicia uma nova encarnação e só supera essa humanização quando se livra do ego criado para aquela aventura encarnatória, mesmo que já esteja desencarnado.
Por não terem ainda essa compreensão mais ampla, vocês, espíritos humanizados, e os espíritos mais próximos de vocês, que também se encontram humanizados, acreditam, piamente, que possuem “livre-arbítrio” sobre os atos exteriores. Acham que estes podem prejudicar ou ajudar alguém. Porém, mesmo que isso seja de difícil compreensão, saibam que cada um recebe exatamente aquilo que merece receber, naquele exato momento de sua vida. Seus atos exteriores são os instrumentos necessários para que as provas dos outros sejam vividas. Se alguém merece passar pela experiência de ser assaltado, Deus terá que providenciar um ladrão. De alguma forma, ambos terão que ser aproximados para que o encontro pareça casual e a ação carmática possa se realizar. O mesmo acontece para a pessoa que precisa passar pela experiência de ser estuprada, por mais dolorosa que seja essa informação para vocês espíritos humanizados, sobretudo se estão passando pelas provações femininas.
Não estou com isso dizendo que o espírito que foi o instrumento para essa ação carmática é “santo” ou um “missionário”. Ele pode ter agido com sentimentos egoístas, ele pode estar em busca de prazer quando comete esses atos, ele pode ter desejado isso e como disse Buda: “desejo é morte”. Se ele desejou, adquiriu carma. Porém, isso só Deus o sabe. Se assim aconteceu, ou seja, uma atitude egoísta motivou o ato, o espírito pecou, na linguagem cristã.
E se não houve o desejo? Se foi um louco que agiu? O louco não tem responsabilidade sobre os seus atos. Isso está explicito nO Livro dos Espíritos e tanto a medicina como a justiça dos homens também dizem o mesmo. Logo, quando isso ocorre, este ser humanizado está sendo um instrumento inconsciente para que a Lei de causa e efeito se realize, para que cada um possa colher aquilo que semeou alhures e, nesse caso, não houve pecado ou aquisição de carma.
Muitos espiritualistas, mesmo querendo aceitar que nada acontece por acaso, ainda acreditam que morreram inocentes na queda do WTC. Muitos espiritualistas ainda acusam o “livre-arbítrio” do terrorista de ter causado a queda das torres gêmeas. E onde estaria Deus, a inteligência suprema e causa primária de todas as coisas? Ele teria sido pego de surpresa? Obviamente que não. Logo, aceitem o óbvio. Quem não tinha que desencarnar com a queda das torres, nem pegou o avião ou nem foi trabalhar naquele dia. Estava bem longe dali, com uma forte dor de barriga, levando os filhos para passear, trabalhando em outra cidade etc. Apenas quem precisava estar lá naquele momento foi levado pela espiritualidade e mais ninguém. Tratou-se de um “resgate coletivo”, como vocês dizem.
E o terrorista? Adquiriu carma? Só Deus o sabe. Vai depender da energia interior mobilizada para o ato. Ele agiu motivado pelo amor ou pelo egoísmo? Eu não sei e me abstenho de julgar e condenar alguém. Quem não tiver pecado atire a primeira pedra, disse Jesus. Como eu ainda tenho vários, prefiro me concentrar em tirar a trave que cega meus olhos e deixar cada um com seus argueiros. Mas, apesar disso, mantenho-me sereno e tranqüilo, pois sei que não existem injustiçados ou inocentes em qualquer um dos atos que acontecem sobre a terra. Nenhum livre arbítrio é capaz de superar a Lei inexorável do carma.
Fiquem na paz de Deus
Um amigo do Oriente.
Texto canalizado na ONG Círculo de São Francisco
São Carlos/SP – 28/06/2006.
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