segunda-feira, 14 de julho de 2008
DR. BEZERRA DE MENEZES
Cearense, nascido em 29 de agosto de 1831, Adolfo Bezerra de Menezes foi considerado o "Kardec Brasileiro".
No início de sua infância, seu pai ainda tinha fortuna proveniente de fazendas de gado, perdidas posteriormente com o pagamento de dívidas com credores que o exploravam.
A vida de Bezerra desde cedo foi muito dura.
A forte vocação para a medicina fez Adolfo vencer a precária situação financeira da família, enfrentando estoicamente a vida universitária no Rio de Janeiro através de aulas que ministrava a seus colegas para custear seus estudos.
Tal contexto ensejou a ocorrência de um fato aparentemente inexplicável: encontrando-se em vias de ser despejado de seu quarto de pensão, apareceu-lhe um jovem que lhe pagou adiantado por aulas particulares de matemática. Adolfo, não era brilhante com números, pôs-se a estudar intensamente, só que em vão, porque o misterioso e sábio aluno nunca retornou para as aulas...
A explicação para curiosa passagem só veio mais tarde, quando já mantinha contatos com o mundo espiritual. Encontrando-se novamente em penosa situação de finanças, foi-lhe avisado que, se necessário, seria enviado um "novo aluno de matemática"...
Concluído seu curso médico, aos 25 anos Bezerra instala seu primeiro e modesto consultório, paralelamente ao trabalho como cirurgião militar no Hospital Central.
Excelente clínico e operador, além de amigo dos pacientes, Adolfo logo começou a ter êxito na carreira.
Quanto aos honorários, ele somente os cobrava de quem podia pagar; com relação aos menos afortunados, não só não lhes cobrava as consultas, como distribuía-lhes boa parte de seus ganhos para a compra de medicamentos e roupas, donde lhe adveio o título de "Médico dos Pobres".
O desprendimento e o espírito fraterno de Adolfo eram tão intensos que ele não vacilou em doar o próprio anel de formatura (e pode-se imaginar quão valioso era tal símbolo no século passado!), para que um paciente o vendesse e pudesse adquirir os remédios necessários ao tratamento.
Em outra ocasião, procurado por um amigo em precária situação financeira e cujo filho acabara de falecer, Bezerra entregou-lhe a carteira de dinheiro, ficando sem nada para a condução de volta para casa.
O primeiro casamento de Adolfo foi com Maria Cândida Lacerda, que veio a falecer após cinco anos do matrimônio, deixando-o em dura provação com dois filhos pequenos. Neste período começou a inclinar-se para o espiritismo, através da leitura do Livro dos Espíritos, que recebeu de presente de um amigo.
Casou-se novamente em 1864, desposando a irmã de sua primeira mulher, com quem teve mais cinco filhos.
Paralelamente à medicina, Bezerra destacou-se como político, tendo sido eleito como vereador e deputado, cargos que exerceu com muita seriedade e dedicação, o que lhe rendeu calúnias e perseguições, mormente após ter-se declarado publicamente espírita. É que em 1889, com o advento das idéias positivistas implantadas com a República, surgiram dificuldades para a difusão do espiritismo no Brasil. Muitos centros espíritas foram fechados nesta fase.
Além dos obstáculos políticos, enfrentou no espiritismo, em sua fase incial, problemas internos, uma vez que os centros espíritas trabalhavam de forma autônoma, sem tomar conhecimento das atividades desenvolvidas pelos demais, além de haver rivalidades e discórdias entre os neo-praticantes, o que ensejou a fundação da Federação Espírita do Brasil por Adolfo Bezerra de Menezes, juntamente com outros companheiros de ideal, para unificar e harmonizar os kardecistas.
Adolfo implantou, ainda, a primeira escola de médiuns do Brasil.
Posteriormente, assumiu a presidência da FEB, cargo que ocupou até seu desencarne.
Adolfo exerceu, ainda, importantes atividades empresáriais nos ramos de transporte ferroviários, bem como teve destaque como escritor médico e espírita.
Suas obras mais relevantes foram "Diagnóstico do Câncer" e "A Loucura Sob Novo Prisma", esta última sobre as obsessões e os meios evangélicos para a sua cura.
Em 1900, uma congestão cerebral imobilizou-o por três meses no leito, antes de seu falecimento. Nete período recebeu inúmeras visitas que discretamente lhe deixavam ajuda financeira e saiam do aposento reconfortadas física e espiritualmente, tal a força dos fluídos transmitidos por Bezerra, mesmo agonizante.
Após sua morte, o "Médico dos Pobres", ao invés de elevar-se às alturas celestiais, que lhe estavam destinadas, preferiu permanecer em missão de auxílio e cura junto às paragens inferiores, especialmente no Brasil, orientando uma equipe de dedicados trabalhadores da espiritualidade.
Bezerra sempre foi um médico no mais nobre sentido que se pode dar a essa profissão, segundo suas próprias palavras: "Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de escolher hora, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta. O que não acode... por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alto da noite, mau o caminho ou o tempo,... ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro, esse não é médico, é negociante da medicina..."
Essa é a imagem que dele até hoje persiste e cujo contornos principais foram bem destacados por sua sobrinha-neta, Fausta Bezerra Silva, em entrevista a Ramiro Gama (Lindos casos de Menezes, p.77): "...a renúncia de Bezerra pelos bens materiais, sua paixão pelo dever de servir sem ser servido, de ser útil, de amar a seu próximo, sua preocupação de aliviar-lhe as dores, solucionar-lhe os problemas, dando-se sem pensar em si".
Marco na evolução do espiritismo brasileiro, Adolfo Bezerra de Menezes deixa-nos perene exemplo de vida - guia e parâmetro para todas as nossas atividades.
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