terça-feira, 1 de julho de 2008

O QUE É A CARIDADE?

Caridade é o ato de se doar para o próximo.
É o ato de desejar o bem àqueles que vivem, não simplesmente conosco, mas a todos aqueles que existem;
é o ato de desejar que eles estejam bem.
Isso é caridade.
Quem tem um desejo sincero de que todos os seres vivos estejam bem, estejam felizes, plenos, em harmonia, é caridoso.
A visão da caridade é tão profunda que transcende as aparências transitórias desse corpo e das constituições sociais.
A caridade transcende tudo isso.
A caridade que conhecemos em nossa família, se estende aos nossos amigos, à sociedade, ao mundo, como um todo.
Se alguém vive sem nenhum desejo de contribuir para que a vida do próximo seja mais plena, mais feliz, não é caridoso.
Quem acorda, estuda, trabalha, come, mora e não tem nenhum desejo de contribuir, positivamente, para a vida daqueles que o cercam ou contribuir com seus talentos, não é caridoso; porque todos nós temos habilidades, temos capacidades .
Aquele que tem um desejo sincero de contribuir com as suas qualidades para acrescentar qualidades àqueles que não as têm e de que tanto necessitam, é caridoso. Todo aquele que tem o poder de fazer acontecerem coisas positivas, que tem o desejo de doar, não apenas o tempo, mas doar a extensão da sua vida por aqueles que buscam o que não têm, é caridoso.
A caridade é composta de muitas coisas.
Uma das coisas é a boa vontade.
A boa vontade é básica, mas somente ter boa vontade, não basta.
"Minha intenção foi boa", ouvimos muito, isso.
Mas, só uma boa intenção não basta para ajudarmos, efetivamente, aqueles que necessitam.
Precisamos, para evoluir, exercer a caridade.
Jamais um ser consegue evoluir, se não tiver caridade. Mesmo, os yoguis.
Quem está, arduamente, fazendo um trabalho de caridade, seja a caridade intelectual, a caridade material ou a caridade espiritual, aquela caridade de dar alimento, dar trabalho, dar educação, dar meios de subsistência, dar a caridade orientadora para evitar o erro, e que interage, assiduamente, junto às pessoas, é porque está evoluindo.
Muitas vezes, julga-se que seres enclausurados em mosteiros, meditando, com práticas estranhas, excêntricas, não estejam exercendo a caridade, considerando-as egoístas, que só pensam neles.
Isso é um engano, porque, geralmente, as pessoas têm a tendência de se guiar por aquilo que os sentidos físicos percebem.
As aparências, obviamente, enganam, na maior parte das vezes.
Essa imagem que vemos, muitas vezes, é ilusória. Inúmeras vezes, quem parece que está sendo muito caridoso, na verdade, não é, porque a caridade é a capacidade real de contribuir, mesmo que seja um pouquinho, para que a vida do nosso próximo se torne melhor.
Algumas vezes, para a vida se tornar melhor, ela precisa ficar pior, para, depois, ser melhor.
Como é isso?
Se uma coisa não está bem organizada, ela precisa ser reorganizada.
E, nessa reorganização, há um caos aparente, como a reforma de uma casa.
Quem já mexeu com reforma sabe o que é. Depois da reforma é maravilhoso, mas durante a reforma é um caos total.
Assim é a vida do ser humano em evolução.
Muitas vezes, fala-se da própria situação: “como tudo parece ruim, embora esteja aparentemente organizado.
" A contribuição de alguém para uma vida melhor de outra pessoa pode abalar um pouco, mas, depois, se reorganiza. Portanto, a atuação invisível é a que mais efetivamente contribui, pelos seres vivos, para sua evolução.
A visível, geralmente, representa uma pequena parcela.
Estamos encarnados, neste momento, isto é, somos pessoas vivas, mas, com certeza, não é por que somos cuidadosos, por que temos o poder de evitar as adversidades deste mundo, sejam elas doenças ou acidentes, não.
Não é por nossa capacidade de evitar. Nós fazemos uma parte, mas não a determinante.
Uma pessoa faz uma longa viagem de férias ou a negócio, vai e volta, e nada lhe acontece.
E, muitas vezes, alguém vai comprar pão na panificadora da esquina, e algo desagradável lhe acontece.
Com apenas meia dúzia de possibilidades de coisas ruins acontecerem, elas acontecem.
E, outras, com centenas, milhares de possibilidades, elas não acontecem. Estatísticamente, ela burlou todas as regras da estatística ao se expor a milhares de situações vulneráveis, mas uma força superior, por caridade, interferiu, protegendo a sua existência, protegendo-a e mantendo-a viva. Porque, muitas vezes, há proteção; outras, não há mais a necessidade de se manter determinado acontecimento na vida.

Por isso, um yogui está, muitas vezes, sentado, em transe, meditando, mas uma parte dele ou várias estão ajudando seres na cidade, no campo, seres que precisam de orientação, que precisam de compreensão para saber como agir no mundo, na vida. Quando a gente se pergunta: "Que decisão tomar?" Toma uma qualquer, inspirada. De onde vem a sabedoria para tomar aquela decisão? Pensa-se que vem só da gente, mas não é. A maior parte dessas decisões são “sopradas” à nossa consciência, “sopradas” por seres que têm uma visão muito mais abrangente que a nossa. Eles têm uma visão imparcial, impessoal que analisa o que é certo e o que não é. Adotam, somente, o que é conveniente, avaliando não o fruto de temores, visto que estão num patamar desligado da ilusão desde mundo. Por isso eles praticam uma caridade de cima para baixo, enquanto que, a caridade material, aquela caridade mais ligada a este mundo, é a caridade de baixo para cima.
Alguém poderá indagar sobre qual caridade é a melhor: a caridade material ou a caridade intelectual, espiritual ou consciencial? Deparamo-nos com o velho dilema, entre, dar o peixe ou dar a vara de pescar. O que é melhor: dar o peixe pronto, temperadinho ou dar a vara de pescar, o anzol e o mapa da isca? Ou, em alguns casos, o mapa do pé de bambu, o armazém, que vende o anzol, onde vende-se a linha, ou melhor, como adquirir a vara, o anzol e as técnicas de pesca?
Por quê? Porque os seres mais evoluídos têm uma noção da natureza humana; não só da natureza humana, mas da natureza da vida, no mundo da forma. Nós temos uma incansável persistência de seguir o caminho do menor esforço. É a natureza humana. Esses seres, no intuito de serem caridosos, facilitam demais a existência de alguém; esse alguém passa rapidamente a se tornar indigno daquilo que recebe, por acomodar-se. São poucos aqueles que têm sabedoria para, face a uma ajuda, não amolecerem o corpo.
No mundo em que vivemos, as dificuldades podem ser positivas, na maior parte das vezes. Quando algo muito difícil, muito duro acontece em nossa vida, se somos seres fortes, nos tornamos mais fortes ainda. Mas, se somos seres fracos, desabamos, nos desmontamos, para, depois, juntar os pedaços e remontar um novo ser, que poderá não ser tão forte, a ponto de agüentar mais adversidades. Mas, de tanto desmontar e remontar, tornamo-nos mais fortes.
A caridade de fora torna a nossa vida, aqui fora, melhor. A caridade de dentro, torna a nossa vida interior melhor. São dois mundos - o interno e o externo - que precisam da caridade daqueles que têm aquilo que não temos.
Mas existem leis que coordenam a caridade. Não podemos dar àquele que não merece. Ao mesmo tempo, não temos o poder de julgar ninguém, porque não temos a visão plena das coisas para juntar os elementos complexos e ter uma opinião completa sobre a limitação de alguém. Por isso, ao julgar podemos incorrer em erro, visto que todo julgamento pressupõe riscos de imperfeição, a não ser naqueles casos evidentes de ocorrência de crimes, assim, já classificados por lei. É óbvio que uma pessoa que se torna violenta no convívio com outras, não deve conviver com estas pessoas pelo dano que lhes possa causar. Mas achar, que tal ser é indigno de existir, já seria julgar. No entanto, impedir que tal ser provoque mal ao próximo, não é julgar, é discernir. Precisamos amadurecer a nossa consciência, de maneira tal, que possamos discernir, a fim de saber, quando pedir ajuda e quando podemos oferecer ajuda. Precisamos, de fato, ajudar no intuito de exercer a caridade, que é uma ponte para a nossa evolução, que é o meio mais eficaz para que possamos evoluir neste mundo ou em qualquer outro, visto que, enquanto cuidamos, apenas, de nós mesmos, evoluímos muito pouco. Quando começamos a evoluir um pouco mais, descobrimos que não somos isolados, que todos nós somos um, e precisamos contribuir para a vida dos outros, porque os outros fazem parte de nós.
No entanto, há aqueles que têm o desejo compulsivo de serem caridosos. E, aí, se metem na vida de todo mundo, mesmo sem serem chamados. Acaba a boa intenção, prejudicando os demais. A boa vontade é importante, é um componente fundamental, mas não é o componente decisivo. A boa vontade surge com o desejo de ajudar na felicidade do próximo. Mas é preciso ter o conhecimento da justiça no cumprimento das Leis da Vida. Que Leis seriam essas? São Leis invisíveis, mas efetivamente atuantes na vida de todos nós. Precisamos ter noção de quê Leis são essas e como atuam no cotidiano de todo mundo? São Leis imburláveis. Mesmo que alguém seja mais evoluído ou menos evoluído, Elas operam na sua vida. Ao compreender tais Leis, associadas a um sentimento de desejo, de ajuda, a pessoa poderá ter discernimento e ver além das aparências, ver além daquele tempo imediatista, ver o começo, o meio e o fim e, juntando tudo isso - o passado, o presente e o futuro -, saber se a interferência da caridade vai ser, de fato, positiva ou não.
Dar poder àquele que não sabe utilizar, adequadamente, o poder faz com que nós venhamos a perder o nosso próprio poder e prejudicar aquele a quem demos o poder. Que poder seria esse? Se alguém se apresenta com carência de qualquer coisa, uma razão plausível existe. É uma razão justa e sábia. Esta razão amorosa, justa e sabia, nós precisamos compreender para saber até que ponto colaborar. Por isso, sustentar a ignorância, sustentar a indignidade, sustentar o comodismo, sustentar a inércia, a preguiça, a indolência, não é caridade.
Uma fruta só amadurece se estiver no ponto, senão, apodrece. Uma pessoa só pode ser ajudada quando, dentro de si mesma, ela sente aquele clamor. Quantas vezes o sofrimento nos assalta de surpresa? Quem está preparado para o sofrimento? Geralmente, quando a gente pensa que está bem, surge uma nova situação para a qual não estávamos preparados, e temos que nos adaptar, rapidamente. Ninguém está preparado para o sofrimento. Mas, muitas vezes, ele aparece como um remédio amargo, educativo. Quem sabe o momento de interferir no sofrimento alheio? É difícil. Mas o conhecimento nos dá discernimento e sabedoria para enfrentar e resolver, pelo menos, alguns elementos básicos.
É muito fácil ouvir alguém falando: "Me ajude, estou sofrendo. Estou sofrendo muito." Seja o sofrimento do lado material. O sofrimento material engloba tanto o lado financeiro, como o lado de convivência corporal e social, tudo que se vincule à matéria.
A pessoa está com algum sofrimento material e pede ajuda: "Me ajude. Eu não quero sofrer." Mas, internamente, ela não quer ser ajudada, pois não se sente responsável. Ela quer que as conseqüências de suas ações desequilibradas lhe sejam tiradas. É como alguém que comete uma falha terrível que repercutiu, negativamente, na vida de muitos, e não quer ser punido, porquanto deseja continuar vivendo e agindo da mesma maneira. Não basta o arrependimento. É preciso uma ação inversa àquela ação original que gerou o erro. Se errou, é preciso acertar, arrepender-se, sinceramente, do que fez e fazer, corretamente, na próxima vez. Este comportamento dá as credenciais para a pessoa receber ajuda.
Então, muitas vezes, uma pessoa fala: "Estou com uma enfermidade. Será que o mundo espiritual pode me curar? Será que algum médico bom, algum medicamento ou alguma força misteriosa pode me curar?" Mas e a causa da enfermidade? Quer cessar essa causa da doença? A causa da enfermidade origina-se da nossa ignorância. O desfecho da cura é cessar a causa da enfermidade. Se a pessoa quer, de fato, enfrentar a causa da enfermidade, deve mudar o seu comportamento; então, ela cessará a causa da enfermidade.
Quando falamos em enfermidade, referimo-nos a distúrbios de qualquer natureza. Todo erro, inclusive prazeres sensoriais negativos, podem classificar-se como energias que gerarão enfermidades. Uma enfermidade que não provoque nenhum tipo de dor, geralmente, não a temos como enfermidade. Quando conversamos com alguém e o fruto dessa conversa é dor, pode-se dizer que essa conversa é uma enfermidade e que seria recomendável que ela não acontecesse.
Quando alguém nos pede ajuda, devemos analisar e ponderar, que é ele o próprio causador do seu problema, para o qual está pedindo ajuda. Nossa ajuda é eliminar o problema ou eliminar a causa? O ideal é eliminar a causa. Temos o poder de eliminar o problema? Se temos, sem nos criar problema, podemos fazê-lo. Como fazê-lo sem nos criar problema? A caridade não precisa ser tão sacrificante. "Nossa, a gente faz caridade, penosamente, não?” Mas, não é preciso. A caridade pode ser feita, agradavelmente. Jamais, penosamente. A primeira caridade que precisamos ter é conosco. Esta é a primeira.
Muitas vezes, a gente se confunde e pergunta: "O que é caridade? Será que não estou sendo egoísta em não ajudar essa pessoa?" Será que não? Vamos ver. Uma pessoa está bem e faz a manutenção desse bem-estar, ou tem um bem-estar satisfatório. Porque estar bem neste mundo, aqui, é tão raro que é difícil de se ver alguém, que esteja cem por cento bem. Pode estar noventa ou oitenta por cento. Agora, estar cem por cento bem, quando encontrar, eu falarei para vocês. Não, os arcanjos não contam. Quero ver os seres que não são arcanjos. Até anjo eu vi reclamando da sorte, aqui. Até anjo, anjo encarnado dizia: "ai, ai, ai, eu quero voltar lá para o mundo divino, porque esse negócio aqui, está muito difícil." O arcanjo, como já dominou a matéria, fala: "Ah, se alguém me queimar, aqui, é melhor ainda, porque eu fico mais leve". Mas um anjo, ainda pena. Imaginemos nós, que para alcançar a angelitude, ainda temos que comer muito arroz e feijão, viver muitos anos e anos, décadas e muitas encarnações. Por isso a gente está aqui. São uns sofrendo menos e outros sofrendo mais. Quem sofre menos, ajuda quem sofre mais a não sofrer tanto e, com isso, se torna mais forte.
Todo aquele que é caridoso, ao exercer a caridade com o próximo, a está exercendo com ele mesmo, para si mesmo e, aumentando a ajuda ele aumenta a sua força para enfrentar a dor do mundo. Nossa, a dor do mundo é terrível. Todo aquele que tem o desejo de exercer caridade sente a dor do mundo. Mesmo que seja um pouquinho, mas sente. Não é cem porcento a plena dor do mundo, mas um pouquinho. É tal a dor que se fala: "Nossa, aquele ali precisa mais do que eu. Eu preciso fazer algo de bom por ele, porque não posso ficar indiferente a essa dor que percebo que o mundo está sentindo". O mundo é composto de seres vivos. Ou é a vegetação maltratada, os animais maltratados. Quem vê um ser vivo sofrendo e não sente nada com isso é uma pessoa isenta de caridade. É uma pessoa que não tem caridade dentro de si.
A caridade é um sentimento importantíssimo que só quem ama possui. Quem não tem amor, não tem caridade. Não adianta falar "eu amo" e não ter caridade. Há vários níveis de caridade. Aquele que sente a caridade se comove com a dor do mundo, possui compaixão, tem um desejo fortíssimo de não fazer sofrer qualquer ser vivo. Mas, diante do sofrimento alheio, ele procura compreender; depois de algum tempo sabe porque o próximo sofre.
Digamos que você passe perto de uma casa e escute uma criança chorando, berrando, desesperadamente. E, no intuito de contribuir para que aquela criança não sofra mais, você arromba e entra casa adentro, tentando salvar a criança e descubra que, simplesmente, a criança estava tomando banho e entrou sabão nos seus olhos e ela, desesperada, entrou num choro infernal. Ela tinha brincado, se sujado demais e, diante do banho, estava sofrendo. Você compreenderá que talvez a técnica do banho possa ser melhorada, mas não é nada que deva preocupar demasiadamente, porque vai passar e, depois, vai ficar tudo bem. Não é nada que vá deixar seqüelas, a não ser o benefício de se estar limpo.
Quando a gente vê alguém sofrendo demais por qualquer coisa, seja ela física, moral, social ou material, precisamos ver qual o melhor medicamento a ser aplicado. Nem sempre o medicamento é agradável. A injeção dói, incomoda, mas, muitas vezes, é o método mais rápido de se aliviar o incômodo de uma enfermidade. Por isso, quando amamos alguém e vemos essa pessoa sofrendo, dói mais em nós, muitas vezes, do que na própria pessoa. E isso pode ser muito motivador para exercermos a falsa caridade. Qual é a caridade falsa? Aquela em que a gente quer aliviar a dor do outro para a gente não sofrer. Essa caridade é incrível, não é? A pessoa a quem amamos está sofrendo e nós queremos evitar o seu sofrimento para que não soframos tanto. É aquela velha história: vai doer mais em mim do que em você. Isso existe mesmo.
Então, muitas vezes, contemplar e ver a dor nos outros, dói mais em nós do que neles. Nós sofremos mais. Por isso, muitas vezes, alguém vê uma pessoa passando necessidades materiais e lhe dá dinheiro; não é para ajudar a pessoa, mas para ajudar a si mesmo. Com essa atitude sente a sua consciência mais tranqüila, podendo comer a sua comida sossegado. Será que está, de fato, resolvendo o problema do outro?
No início de nosso trabalho, quando começamos a transmitir os elementos conscienciais, isto é, de transmitir os conhecimentos que ajudam a expandir a consciência, nós, no intuito de contribuir em vário setores, exercemos a caridade material, dando alimentos, roupas, medicamentos, etc. para aqueles que necessitavam. Verificamos que a ajuda era boa. Famílias, muitas vezes, trabalhadoras, esforçam-se em vão, e não têm sequer os meios básicos de existência material. Elas, de fato, precisam de ajuda material. E dávamos tal ajuda. Mas verificamos que, ao longo dos meses, tal ajuda não tinha mudado muito a situação da vida dessas pessoas e desejávamos contribuir com uma caridade mais efetiva, aquela que mudasse de fato, porque a caridade que gera a dependência não é positiva. A verdadeira caridade gera a independência.
Já imaginaram um pai, uma mãe que, ao cuidar do filho - o filho está bem porque está sendo cuidado - mas o filho está com 30 ou 40 anos de idade e precisa ser cuidado, ainda? Pode-se dizer que os pais fracassaram nessa missão. Por quê? Porque todo destino de um filho é se tornar independente e aprender a cuidar de si mesmo e depois, cuidar, por algum tempo, de um filho ou de vários filhos. Agora, um filho que não aprende a cuidar de si mesmo não terá condição de cuidar dos seus filhos. E os pais terão fracassado em sua missão de tornar aquele ser independente.
Toda vez que uma pessoa tem contato com alguém que é inexperiente naquilo em que a pessoa tem experiência, ela pode ser como um pai ou uma mãe, naquele aspecto, para aquela pessoa. Por quê? Porque ela é quem tem o poder de orientar. Nem sempre deve orientar, mas tem o poder. E, aí, vimos que tínhamos o desejo de contribuir, efetivamente, para a melhora da vida das pessoas. E, ao analisar e estudar, verificamos que a consciência é quem comandava as pessoas para terem uma vida próspera ou uma vida difícil e precária em muitos setores. Porque há, também, a prosperidade afetiva, isto é, de ter um bom casamento, uma boa família, o que seria uma prosperidade familiar. Ter um bom emprego, um bom rendimento, ter um bom relacionamento social, seja desde o vizinho, às pessoas que moram por perto, aos colegas, aos amigos, isso é prosperidade material.
Quando alguém não consegue se relacionar, socialmente, quando agride a sociedade em que vive ou se sente, demasiadamente, agredido por esta mesma sociedade, ele está precisando se ajustar. Está certo, cada um enfrenta o meio em que vive conforme as suas possibilidades. Não é possível estabelecer receitas prontas para todas as pessoas. Mas existem regras básicas. Quando uma pessoa está em desespero, quando uma pessoa está com a vida, em que acha que é melhor não existir do que existir, é sinal de que está precisando de ajuda. A ajuda de fora é importante. O analgésico é muito válido, mas não cura. Ele apenas dá mais um tempo para se cuidar da causa. Por isso, o analgésico é importante, mas não cura. O analgésico poderia ser chamado de caridade, pois representa aquilo que ajuda. O paliativo é caridade. Se você só pode fazer essa caridade, faça, para que outros façam outra caridade, e complementem a sua, como ajudar a mudar a consciência das pessoas, para que elas acordem, pensem e digam: "Não. Eu não vou ficar assistindo televisão o dia inteiro, não. Estudarei, para aprender a fazer alguma coisa que tenha importância para o próximo. Aprimorarei a minha ação para que ela gere benefício." E isso vai aumentando, vai forjando a prosperidade na vida da pessoa.
Por isso, exercemos a caridade para a nossa prosperidade. Quais são as caridades que geralmente exercemos? É a caridade material de ensinar alguém a fazer alguma coisa materialmente; a caridade material de dar alguma coisa material para alguém que precise; a caridade material de ouvir, a caridade de falar, a caridade de trabalhar em prol do próximo. Estamos aqui vestindo roupas. E essas roupas são fruto de caridade. "Ah, mas eu paguei por elas". Mesmo que você tivesse o dinheiro e ninguém se dispusesse a fazer a roupa, o dinheiro não adiantaria de nada, porque não teria ninguém que se predispusesse a confeccioná-las. Quando nós fazemos com o desejo de servir e de sermos úteis às outras pessoas e procuramos nos esforçar cem por cento, isto gera um benefício cada vez maior. Se alguém não tem o desejo de contribuir pelo próximo e nós facilitamos demais a existência dessa pessoa, tornamo-nos coniventes e cúmplices desse comportamento.
Como é isso? É a caridade material. Exemplificando: mesmo em sua família, com seus colegas ou amigos, há uma pessoa que vive lhe pedindo dinheiro emprestado e você sabe que aquela pessoa pede a todos os familiares, amigos, conhecidos e desconhecidos. Você quer ajudar essa pessoa? Descubra por que ela fica sempre necessitando tanto da ajuda dos outros e de uma ajuda onde ela não está contribuindo para ninguém, a não ser para ela mesma. E, muitas vezes, um "não" enorme será a caridade. Porque sempre que alguém ajuda, dando aquilo que ela está pedindo, alimenta nela este comportamento de descontrole no que ganha e no que gasta.
A caridade, em alguns casos como esse, é não dar, é não emprestar. Vão falar: "Mas como? É um parente, é um familiar." Ao não emprestar, a pessoa tomará atitudes erradas. E, ao tomar atitudes erradas, ela gerará karma. Esse karma virá atrás dela e, quando vier, vai provocar dor. Essa dor se sobreporá ao prazer do comportamento desregrado e ela irá se educar.
Quem disse que a caridade sempre dá boa sensação ou prazer? Muitas vezes, receber essa caridade de alguém é doloroso. Não farei mais isso, porque não acredito que estou fazendo a coisa certa. Mas, você fez. A pessoa, então dirá: foi você quem me fez assim. Nossa, quando você, muitas vezes, estiver ajudando uma pessoa e a estiver ajudando de maneira errada, você ouvirá o seguinte: "se estou assim, a culpa é sua." É como o filho que foi preso porque estava roubando e a polícia chamou os pais. Os pais foram lá e falaram: "meu filho, mas a gente te deu de tudo, meu filho. Por que você está fazendo uma coisa dessas"? E, muitas vezes, o filho fala: "estou fazendo, porque vocês sempre me deram de tudo. Me deram tanto de tudo que não aprendi a adquirir, não aprendi a ser digno, não aprendi a saber que todo benefício que eu recebo precisa ser uma conseqüência do benefício que eu gero para o mundo. E, agora, a culpa é de quem? É minha, que sempre recebi tudo fácil? No dia em que não recebi fácil, tomei o caminho errado porque não estava acostumado com o caminho certo, que é difícil."
Nada é fácil neste mundo. Há pessoas que prometem: "Vou solucionar todos os seus problemas." E a gente: "Amém." Ninguém tem este poder. Só nós temos este poder perante as Leis da Vida. E a caridade não é fácil. Quer ser caridoso? Ajude a quem merece. Para quem não merece, a ajuda é, muitas vezes, apenas observar e esperar.
Vejamos uma cena, no plano astral, de um grupo de dez homens andando numa trilha, alguns armados, outros desarmados. Alguns, vestidos de branco, são médicos com maletas, com instrumentos e medicamentos. Outros, armados, são guardas. Uma trilha cujo chão quase afunda. Um lugar sombrio, de uma dimensão astral mais densa. Lá no meio, também, há alguns técnicos, com aparelhinhos com telas brilhantes. Nessas telas brilhantes, um oceano de pontos luminosos. Neste oceano de pontos luminosos, a maior parte dos pontos está com um vermelho bem escuro. Mas, de repente, um ponto começa a ficar amarelo.
Esse amarelo representa uma coisa: alguém está preparado e pronto para ser ajudado. Alguém, num mar de sofrimento, no mundo astral. Alguém que, depois de sofrer e penar e sofrer muito na dimensão astral mais densa, sofre por ter errado muito no físico e, pela consciência, não se perdoa e fica se auto-agredindo, se autoflagelando. De repente, a consciência dá um estalo: "Acho que já sofri o suficiente. Está no momento de recomeçar." Lá no âmago do seu ser, ele tem aquele desejo: "Não quero mais facilidades. Não quero mais caminhos errados. Quero fazer o que é certo, mesmo que seja duro, mesmo que seja demorado. Mas quero fazer o que é certo. Mesmo que tenha que sacrificar meus vícios, meus defeitos. Mesmo que tenha que educá-los. Mas irei fazer o que é certo." Aí, a lampadazinha brilha: é a aura da pessoa remodelada, tingida pelas credenciais dos seus sentimentos.
E o técnico aponta: "É por ali." Os guardas abrem caminho, naquele oceano de dor. São as dimensões astrais mais densas. E chega ali: "É aqui." Quando a gente olha, tem um córrego escuro. Alguém enfia a mão lá dentro e a mão vai lá longe, segura alguém e puxa. Quando puxa, parece mais um jacarezinho; não tem nem forma humana. Vem um outro com uma injeção, e dá a injeção e o jacarezinho adormece. Levam-no para outro lugar. Neste outro lugar, ele acorda, olha para todo mundo meio assustado e começa a ser feito um trabalho para ele acreditar que não é mais jacaré. Ele começa a lembrar de quem ele era antes de tomar essa forma. Começa a tomar forma humana, novamente e, aí, por caridade, é levado a pessoas encarnadas que têm um fluido especial. Esse fluido especial dá a ele a capacidade de manter a forma humana, para que ele não a perca. Porque, muitas vezes, sem esse fluido, ele perde a forma humana e fica mudando de forma a todo instante. Esse fluido é especialmente preparado por espíritos que manuseiam as energias dos encarnados. Esses encarnados, no nosso mundo, são chamados de médiuns. É uma caridade que eles exercem e não imaginam o tamanho dessa caridade. Porque tem médium que está lá, quieto, só orando: "Nossa, não estou sentindo nada. Nenhum arrepio." Enquanto outros estão lá: "ham, hum..., e ele: oh, meu Deus, não estou sentindo nada. Acho que não sou médium, não. Não sei o que estou fazendo aqui."
Mas há muitas mangueirinhas ligadas aos seus chakras, nos seus centros de força, donde sai um fluido colorido e luminoso, florescente na maior parte das vezes, outras vezes esbranquiçado, indo lá, para o jacarezinho. O jacarezinho vai se transformando, muitas vezes, numa criança, num idoso, numa mulher, num homem. E está aí o médium que possibilita esse fenômeno maravilhoso, pensando que não está fazendo nada. Mas o dirigente diz que ele está fazendo alguma coisa. Ele acredita no dirigente e, então, vai se submetendo ali e procurando orar. E ele está sendo caridoso e pensa, muitas vezes, que não está sendo. Mas está sendo.
Se não temos discernimento para fazer uma caridade direcionada, pelo menos podemos ser instrumentos ingênuos da caridade. "Ah, mas eu não sou espírita." Também não sou espírita. Mas é um fenômeno. Porque você não é vegetariano, você vai acreditar que não exista vegetal, só porque nunca viu um pé de alface? Por isso, há coisas que, mesmo que a gente não interaja com o mundo, elas existem. Essas coisas existem. Esses mundos invisíveis existem e estão aqui, na nossa vida, atuando. Muitas vezes, acontece uma coisa desagradável e a gente fala: "hoje, eu pego um!" E alguém diz: "Calma." Você vai dormir, pensando: "Amanhã, vai ter!", querendo se vingar de alguma coisa que alguém fez de mal contra você. Mas, fora do corpo, durante o sono, vem uns amigos e passam a conversa em você. Você acorda manso, não é? Nada como um dia após o outro. É a caridade.
Por isso, quando nós exercitamos a caridade real, ela nem sempre é o "sim". Na maior parte das vezes, é o "não". Quer ajudar a pessoa de fato? Estude bastante, pratique uma parte daquilo que estuda e procure transmitir coisas que ajudarão, efetivamente, os outros. Só que, aí, vai sentir uma dureza, quando alguém fizer um trabalho material de ajuda. Por exemplo: há uma pessoa que está passando necessidade. A maior parte dos mendigos que saem pedindo na rua, está viciada, e perder o vício não é fácil. Quem fuma e é viciado em fumar, sabe o quanto é difícil em perdê-lo. Viciado em beber, sabe quanto é difícil em deixar. Viciado em comprar, sabe o quanto é difícil abandonar. Consumismo, também, é um vício. Viciado em ficar à toa, em ser irresponsável, sabe o quanto é difícil se aprimorar. E o vício em pedir, também, é difícil de vencer. Você chega a uma pessoa viciada em pedir e fala: "eu te dou um emprego. Mas você tem que ter horário, tem que ter disciplina na ação, precisa fazer bem feito isso e aquilo." A pessoa se manda. Não quer saber. É melhor pedir, porque é indisciplinada. Para mendigar, não precisa ter disciplina, nem constância, nem se auto-aprimorar tanto. Por isso, parasitar é facílimo. Mas ser produtivo é dificílimo. Mas aqueles que estão amadurecidos, podem ser.
A caridade começa conosco mesmo. Cuide bem de você, da sua mente, das suas emoções, da sua evolução. Esta é a maior caridade que podemos fazer inicialmente. Por quê? Um violino desafinado é insuportável. Por quê? Uma direção desregulada atropela todo mundo, bate, estraga. Nós precisamos, primeiro, afinar nosso instrumento, buscando evolução. Mas, nessa busca de evolução, muitas vezes, a gente se auto-engana. É o nosso ego, acomodado, dizendo: "Eu ainda não sou perfeito. Como vou ajudar alguém?" É a velha frase: "ainda sou cheio de limitações. Não tenho como ajudar ninguém." Se esperarmos nos tornar perfeitos para contribuir, positivamente, para alguém, jamais conseguiremos exercitar a caridade. Jamais.
Temos dez defeitos e uma virtude. Essa virtude poderá ajudar alguém, mesmo tendo dez defeitos. Ao ajudar alguém com essa virtude, fortificar-nos-emos na virtude e, com o passar do tempo, a virtude crescerá e, então teremos nove defeitos e duas virtudes. "Nossa, já melhorou, para quem só tinha uma virtude”. Aumentaremos as virtudes, até eliminar os defeitos. Por isso, exercitemos a caridade. É por isso que evoluímos. Você fala assim: "Filho, não faz isso." Dali a pouco: "Pai, por que você está fazendo isso? Você não falou que não era para eu fazer isso?" Aí, você: "Ih, é mesmo. Tenho que dar o exemplo." Você se esforça para melhorar, não tanto por você, mas pelos outros, porque, se você não se melhorar, não terá as credenciais para contribuir para que os outros se melhorem. Então, quem está ganhando com isso? São os outros? Não. Você está sendo primeiro e melhor beneficiado. Por quê? Você está se auto-aprimorando para contribuir para o aprimoramento do próximo. Por isso, a caridade nos possibilita evoluir.
A caridade que é mais duradoura é a caridade consciencial. Toda vez que você conscientiza uma pessoa do certo e do errado – porque o certo é melhor do que o errado - você está fazendo a maior caridade. Mas jamais ajude sem que lhe seja solicitado. É uma regra da caridade. Por quê? Você foi solicitado à caridade? Tudo bem, foi. A pessoa lhe pediu ajuda. Você vai analisar se a pessoa está preparada para ser ajudada. E se você errar? Se errar, da próxima vez, procurará fazer melhor. E se da segunda vez errar? Da próxima vez, fará melhor. A cada erro, se você se esforçar, vai errar menos, até que não erra mais. É melhor você errar, involuntariamente, do que errar voluntariamente.
Essa caridade fará com que você cresça. Mas não fique se metendo na vida de todo mundo, porque, se tentar amadurecer uma fruta verde, você a apodrece. Se tentar fazer caridade para uma pessoa que não está preparada, além da pessoa não ser ajudada, ela ficará revoltada contigo, porque você desrespeitou uma coisa que até Deus, o Imanifesto respeita: o livre-arbítrio.
Nós temos poder de escolha. Se uma pessoa está sofrendo por ignorância e não busca vencer a ignorância, não fique ali, no pé dela, dizendo: "Você é ignorante. Você fica errando porque quer, não-sei-o-quê." Puxa, onde está a caridade em aceitar a pessoa como ela é? Voltando ao caso do jacaré. Se você falar para o jacaré: "Vire um avestruz, vire uma garça, que vive ali, perto do jacaré; vire uma garça; você é um jacaré imundo, feio; vire uma garça, que é bonita, esbelta, bonita de se ver, não adianta de nada." Todo o dia você chega no jacaré e diz: "Ainda jacaré? Oh, minha Nossa Senhora, haja paciência”. Mas se Deus tem paciência, porque eu não tenho. Então, você vai fazer o quê? Vai tornar o jacaré deprimido ou, então, revoltado, agressivo, porque ele vai falar: "Quem é você para querer que eu seja uma garça, se foi Deus quem me criou e não quer que eu seja uma garça? Ele quer que eu seja um jacaré ou permite que eu seja um jacaré!"
Por isso, a caridade é você aceitar, também, as pessoas como elas são. Se você quer que elas mudem, mude primeiro você e tenha paciência para esperar a natureza cumprir o seu papel, isto é, o tempo fazer a semente germinar. Não fale, assim: "Semente, você ainda está semente? Eu queria, hoje, colher uma dúzia de mamões e você está aí ainda, só semente, nem nasceu? Ah, vou matar você porque você não serve para nada." Paciência é caridade. Aceitação é caridade, não é conivência. Não é falar: "Jacarezinho! Ser jacaré é que é bom." Não. Você já sabe que ser jacaré não é bom, mas sabe que é necessário. Aceite. Isso é caridade.
Exemplificando: você tem uma esposa, um marido, um filho e ele tem uma tendência negativa. "Ah, você não é mais meu filho, porque você tem essa tendência." Jamais faça um negócio desses. E, se fizer, depois pense melhor e avalie melhor isso.
Agora, a partir do momento, em que a maneira de ser de alguém está nos prejudicando, de forma tal que está nos desequilibrando, não é que a gente queira que a pessoa mude, mas a gente deve evitar que essa maneira de ser da pessoa repercuta em nossa vida. É como o assassino. O assassino gosta de matar. A gente não tem o direito de querer que ele não goste mais de matar. Não temos esse direito. Mas temos o direito de evitar que ele nos mate ou mate aqueles que para nós são importantes. Nós temos esse direito, de preservar a nossa vida. Mas não temos o direito de querer que ele não seja como ele é, porque até o Criador Absoluto possibilita que ele seja assim. Por que nós, que não somos o Absoluto, desejamos tirar-lhe esse direito, se não temos o poder de tirar esse direito? E, mesmo que tenhamos, nem tudo que a gente pode, é o certo.
Por isso, hoje, nós já sairíamos daqui, ganhando a palestra, se refletíssemos sobre aceitar as pessoas como elas são. Sobre, como ajudar as pessoas naquilo que elas, de fato, precisam, não naquilo que elas pensam que precisam, fazendo nós o certo. E o certo, muitas vezes, é "não". O certo é, muitas vezes, ter paciência. E o por quê da caridade? Porque, ao fazer o bem, nós aprimoramos o nosso sentimento para o bem, e a nossa consciência com o bem que fizemos. E isso nos faz evoluir. Então, a mãe procura aprender com as mães mais experientes como cuidar do filho. Isso é caridade. E ela se torna melhor, porque quer ter caridade.
A caridade de cima para baixo é que sustenta o mundo da forma, o mundo material, o mundo afetivo, o mundo emocional. A caridade de baixo para cima possibilita um ser ter onde viver, ter um corpo saudável, bem alimentado, instruído, resguardado. Ambas as caridades se complementam. Mas a energia é importante. Seres indisciplinados abusam de seres de boa-fé, de bom coração, que têm bom coração mas têm certa ignorância sobre a energia. Há pessoas que abusam da boa vontade.
Se você quer praticar a caridade real, é recomendável que não seja muito ingênuo, que não pense que todo mundo é bom, porque não é. Há pessoas horríveis nesse mundo, pessoas desagradáveis, pessoas que tornam a vida de outras, aqui, quase impossível. A gente lembra das guerras. Pessoas que matavam seres humano frágeis, indefesos só porque achavam que a raça dos outros era errada, que não era digna de existir; que eles tinham mais direitos; que a existência de outros era uma ameaça ou uma ofensa à sua existência. Temos, hoje, outros seres que só pensam neles mesmos, que tudo que sai da sua boca é coisa que só visa a eles mesmos, nunca visando o próximo. A disciplina é necessária e a energia é o cumprimento dessa disciplina, de cumprimento a certas leis.
Então, de repente, você recebe alguém em sua casa e a pessoa começa a abusar de você. E você fale: "Puxa, eu fui com o maior bom coração tentar ajudar essa pessoa e ela começa a abusar de mim. Ah, não vou ajudar mais ninguém, não." Tem gente que faz isso. Quando você vai, com a maior boa vontade, ajudar alguém, a pessoa abusa de você. Você, então fala: "Ah, mas eu sou muito bobo. Eu fico ajudando os outros e eles só querem ver a minha ruína, querem que me dê mal." E, aí, se revolta e não quer ajudar mais ninguém. Quantas pessoas encontrei, ao longo do caminho, que estavam revoltadas em tentar ajudar o próximo e o próximo não contribuir muito com elas e, pelo contrário, sabotá-las? Isso acontece muito.
Crie uma disciplina e uma energia em volta de você, para que você só ajude a quem mereça e precise e quem não precise e queira abusar da sua boa vontade não tenha poder sobre você. E, aí, conseguirá fazer caridade para sempre. Senão, você vai quebrar o seu trabalho, o seu desejo de exercer a caridade.
Nossa, como tenho observado pessoas que, ao tentarem ajudar o próximo, são tão atacadas. E são tão atacadas, de diversos modos, que desistem e falam: "É melhor eu cuidar da minha vida. Quando eu puder ajudar, ajudo. Tudo bem. Mas, se eu sentir qualquer dificuldade, fico na minha."
Fazer caridade é dificílimo. Isto, porque, se tem alguém que veja outro fazendo caridade e ele mesmo gostaria de estar fazendo, mas não tem evolução para tal, não tem o sentimento para tal, ele fala: "Ah, aquela pessoa pensa que é melhor do que eu?" E começa a atacar, de alguma forma, por vingança, por mágoa, por inveja.
Por isso, ao fazer caridade, faça com bom sentimento, mas não faça com ingenuidade. Procure saber o que é uma pomba e o que é uma serpente. As características da diferença: a serpente é comprida, não tem perna, não tem pena. Não tem pena nos dois sentidos: nem a pena branca ou colorida e nem a pena de sentimento. A cobra, geralmente, tem suas presas, na maior parte das vezes, tem veneno, e é sorrateira. Porque tem muita gente falando: "Olha o passarinho que eu arrumei." E só se vê a linguinha (chiiii...). E a gente: "Isso aí não é passarinho, não. Cuidado porque isso aí é venenoso. É uma coralzinha. Não é um passarinho, não. O outro responde: mas eu vi esse passarinho. Ele estava passando fome e eu o trouxe para casa. Já dei comida para ele. – Mas não é passarinho?. - E a cobrinha, lá, só esperando um descuido para picar.
A caridade deve ser exercida com discernimento. Se não tiver discernimento, aprenda a tê-lo, primeiro. Aí, você fala: "Não, eu tenho discernimento." De repente, você vê que tinha pouco. "Ah, não vou mais fazer caridade." Não desista da caridade por ter se magoado com alguém. O problema está na sua inexperiência, porque o mal, por enquanto, vai existir, ainda, neste mundo. E o mal combate tudo que é positivo. Evite ter expectativas. Quando você ajuda alguém, evite ter a expectativa de que aquela pessoa ficará te idolatrando, vai te devolver o bem. Muitas vezes, você ajuda, fazendo o bem e fala: "Gente, eu dou o pão e recebo uma pedra." Algumas vezes é assim mesmo. Você pensa que o trabalho da caridade é fácil? Não é. Se não tiver muito amor e discernimento, você não consegue continuar fazendo a caridade.
Por isso, persistência, discernimento, compreensão das leis da vida, disciplina, energia, todas estas virtudes juntas, são necessárias. Mas, ao mesmo tempo, não esquecer da suavidade. Aplique energia com quem precisa de energia. Suavidade com quem precisa de suavidade. Isso faz a caridade. "Não", para quem precisa receber não. "Sim", para quem precisa receber sim. Não é "não" para todo mundo e nem sempre "sim" para todo mundo. Isso é caridade. Dar para quem precise, sabendo que vai usar bem. Não dê ao necessitado, sabendo que não vai usar bem, porque, senão, você estará contribuindo para a pessoa ficar estacionada no seu nível evolutivo, e você não fará da caridade uma ponte para a sua evolução; para a sua evolução e para a do seu próximo. Por isso, dignidade é a credencial para alguém receber caridade. Se uma pessoa não é digna, ela não deve receber a caridade. Por que não? Porque ela precisa sofrer a necessidade, vivenciar a dificuldade, para aprender a virtude de se ser digna.
Por hoje, ficamos por aqui. A nossa próxima palestra será sobre os Mecanismos da Projeção Astral. Seguem as perguntas.


PERGUNTAS:

1. É condenável ajudar mais os animais do que as pessoas?
Na caridade, geralmente, fazemos aquilo que é o nosso desejo. A caridade é conseqüência, primeiramente, do amor. A caridade compõe o amor. Se uma pessoa faz uma coisa, com a qual gera benefício para o próximo, mas não faz com amor, ela não é caridosa. É importante que a caridade seja uma conseqüência do amor.
Se a pessoa sente mais amor pelos animais, possivelmente ela tenha algum motivo para isso. Talvez tenha tido decepções com seres humanos. Talvez viu que o ser humano tem livre-arbítrio, conferindo-lhe poderes para melhorar a sua vida, o que não ocorre com os animais. Sendo assim, geralmente, quando ele sofre é mais por culpa sua. O animal, quando sofre, não tendo livre-arbítrio, a culpa não é sua. Então, ele se torna mais vulnerável que o ser humano. Talvez, ao perceber essa maior vulnerabilidade, tenha se comovido mais pelo animal do que pelo ser humano.
Isto pode ser uma das explicações.
No entanto, se sente mais amor, pelo animal, não é condenável, de forma alguma. Porque, afinal, a essência, que compõem os seres humanos, as plantas, as pedras, os animais, os planetas, as estrelas, é a mesma essência, é o mesmo espírito. Nós não somos seres humanos. Nós estamos seres humanos. Os animais não são animais. Eles estão animais. Porque o espírito é o mesmo para todos os seres vivos.
Portanto, no caso de amar mais um do que o outro não é condenável, de forma alguma. É simplesmente a fase evolutiva em que se está. Os devas da natureza são espíritos que cuidam, por exemplo, das plantas, dos animais, e se estão aqui é porque, no momento, estão amando mais as plantas e os animais. Isso não os tornam indignos ou condenáveis. Tanto que são seres, extremamente, evoluídos. Os devas são os anjos e arcanjos da natureza.
2. Qual é o papel da oração no exercício da caridade?
A oração nos sintoniza com o mundo espiritual superior. A oração pode ser, também, composta de uma prece de agradecimento. Portanto, ao agradecer, ao pedir, ao se sintonizar, a pessoa produz em si mesma uma energia mais positiva, mais harmônica e pode projetar, transmitir essa energia para outras pessoas.
Por isso, ao pensar em alguém e fazer uma oração, você está sendo caridoso. Por quê? Esta oração está gerando energia positiva em você, que está transmitindo para a pessoa. Constitui também uma caridade orar por alguém.
Contar-lhes-ei uma historinha sobre isso. Certa vez, vi um bêbado desmaiado, no meio-fio, desmaiado ou dormindo. Aquilo me comoveu. A gente sente, quando vê alguém sofrendo; porque dizer, que ficar ali, sujo, naquele frio, abandonado, é bom? Não é. É obvio que é ruim. Ele poderia estar na sua casa (dele), numa caminha quente, com a família dele, com alguém que amasse ou mesmo sozinho, mas sentindo que não está desamparado. Mas, fisicamente, no momento, não me senti apto ou com o desejo de fazer alguma coisa por ele. Procurei sair do corpo e auxiliar aquele ser.
Quando sai do corpo, projetando-me, astralmente, comecei a conversar com aquele ser, e vi que havia entidades espirituais desencarnadas, bloqueando todo o seu entendimento sobre as coisas. Cheguei numa das entidades, e falei: "Por que tanto ódio? Por que tanta maldade em impedir que esse ser consiga cuidar de si mesmo?" Ele respondeu: "Isso aí não é um ser, não. Se você soubesse... Isso aí é um monstro. Olha o que ele fez." Aí, mostrou-me uma pessoa (ele), matando criancinhas, exterminando uma família inteira, e as outras maldades que ele já tinha feito. E falou: "Essa pessoa aí é um monstro. Ele não é um ser humano. Isso aí, ainda é pouco para ele. Eu quero que ele viva muito para sofrer muito." E eu falei: "Puxa, mas não tem como aliviar um pouco? Porque ele está sofrendo demais." Ele falou: "Não. Isso aí é um monstro." Eu falei: "O que a gente poderia fazer para aliviar essa dor?" Ele falou: "Olha, uma sugestão, uma coisa: se você conseguir, que uma única pessoa, que, pelo menos uma pessoa projete um pensamento de amor por esse ser, alguém que o conheça...( Porque você não o conhece. Você está aí, porque você não conhece. Eu conheço esse aqui)... se você encontrar alguém que o conheça e que o ame, eu o largo."
Deu trabalho, mas achei a sua mãe de uma encarnação muito remota que amou esse indivíduo. Mas deu trabalho para achar, "desenterrar" a velha, lá. Ela estava numa dimensão muito superior... Tinha evoluído demais. Mas achei. Consegui achar e a trouxe. Ela chegou, pegou a pessoa nos braços, o bêbado que lá, estava desmaiado. Ela o pegou nos braços e orou. Orou uma Ave Maria por ele. Aí, o ser espiritual obsessor olhou para mim, e falou: "É. Que proeza" e saiu. Aí, a pessoa pôde ser ajudada.
Um único pensamento de amor por alguém pode salvar a pessoa do inferno. Esse ser foi salvo do inferno em que estava vivendo, da perseguição implacável de seres que não o perdoavam pelos seus erros.
3. Como podemos interpretar a seguinte frase: fora da caridade não há salvação?
Frase muito verdadeira. Mas salvação de quem, para quem? Digamos que a principal salvação que a caridade dá é a salvação de nós mesmos. Salvação de nossas imperfeições, dos nossos erros. Porque, para alguém exercer caridade, ela precisa se aprimorar e, aí, vai se salvando a si mesma, a cada dia mais, e vai, também, sendo ajudada. Porque é como o ecossistema econômico. Se fez algo de bom para o próximo, o próximo fará algo de bom por você, e, sempre, poderá contar com a ajuda de alguém, também.
4. Após várias perdas, perdi o interesse pelo próximo. Como recuperar este interesse?
Através do perdão e evitando o sentimento de autopiedade. Torna-se preciso perdoar o próximo e vencer a própria autopiedade. Porque ficamos com dó de nós mesmos, falando: "Nossa, eu sempre ajudei e o pessoal me paga desse jeito? Ah, não. Eu sou uma vítima. Ah, eu sou bobo. Eu sou isso, sou aquilo. Não vou fazer mais isso, não." A mágoa e a autopiedade, juntas, concorrem para o quê? Para o endurecimento do coração, o endurecimento do amor.
É preciso perdoar o próximo e é preciso sair dessa condição de vítima em que muitas vezes nos colocamos. O tempo ajuda. Tem coisas que só o tempo resolve. Deve-se esperar. E, quando a gente espera, a gente amadurece e, aí, fica-se no ponto ideal para perdoar, para fortificar-se.
5. Qual é a caridade do médium na incorporação? O médium da história da ajuda com o jacarezinho?
Foi a caridade de doar a sua vida, a sua energia vital, as suas vibrações humanas para outro ser. É uma caridade semelhante a de doar sangue. Simplesmente, doar sangue. É caridade pequena? É grande? Para quem precisa de sangue é enorme. Para quem não precisa, pode não parecer grande coisa, mas, para quem precisa, é.
6. Por favor, explique melhor a diferença entre a caridade que vem de cima e a caridade que vem de baixo.
A caridade que vem de cima é a que vem da conscientização. Essa é a de cima. Você começa a ver que quem comanda a vida da pessoa, é a sua consciência ou a falta dela. Se você começa a instruir uma pessoa de como ela pode viver melhor e ela aprende e aplica, ela passa a viver melhor.
Se você tenta tornar a vida de uma pessoa melhor, por exemplo, uma pessoa que está com dificuldade material e você vai e lhe dá dinheiro, simplesmente, você está fazendo a caridade de baixo para cima.
Se você ensina para ela como ganhar dinheiro, de forma honesta, de forma justa, de forma amorosa, você está fazendo a caridade de cima para baixo.
Ambas são importantes e complementares. A caridade de baixo para cima é complementar. Como complementar? Se você tem oportunidade de dar emprego a uma pessoa que demonstra saber cumprir bem as funções ou pode aprender a cumprir bem as funções e você dá essa oportunidade, isso constitui caridade de baixo para cima. Agora, se, ao entrar no emprego, ela não consegue cumprir bem a função, mas você se dispõe a ensiná-la a cumprir bem a função e ela consegue aprender, é a caridade de cima para baixo, que foi exercida. Então, uma caridade é da consciência, isto é, de dentro para fora, ou de cima para baixo. A caridade de fora para dentro é a realizada de baixo para cima.
7. Meditar em prol do planeta e da humanidade, fazendo mentalizações é uma forma de caridade? É suficiente?
Sim. A suficiência da caridade é sempre relativa à nossa necessidade de fazer caridade, ao nosso sentimento de amor e de carinho. Então, não existe essa regra: "Você, hoje, não fez caridade suficientemente." Ninguém nos cobra a caridade. A caridade não é obrigação. "Você tem que me ajudar, porque você tem e eu não tenho". Não. Não existe isso, não. A caridade flui do sentimento de amor pelo próximo. A caridade não é uma regra. "Hoje, tenho que fazer isso porque tenho caridade." Não. Caridade não é assim. É um desejo que flui de dentro para fora.
8. Como saber se a caridade está beneficiando o próximo ou prejudicando?
É pelo discernimento. Porque, muitas vezes, dizer "não" faz sofrer e está ajudando, espiritualmente falando. Outras vezes, dizer "sim" dá prazer e está prejudicando. Muito discernimento, conhecimento e experiência diminui a margem de erro, de pensar: "não, estou ajudando" e, na verdade, está prejudicando.
Outra coisa: fazer a caridade é como evoluir. A sua opinião pode estar errada. Mas ela é a sua. Há momentos na nossa existência, em que nos veremos a sós conosco mesmos e com a nossa essência, e com mais ninguém para nos orientar. Então, embora a sua opinião esteja errada, é melhor que você a cumpra do que a opinião de outra pessoa que esteja certa. A partir do momento em que a sua opinião se torna a opinião do outro, e a sua opinião está certa e a opinião do outro está certa, também, tudo bem. Mas, se a sua opinião está errada e a opinião do outro está certa, se você segue a opinião do outro e não a sua, você estará fazendo o quê? Um erro com você mesmo. Porque nas ocasiões, em que não tiver a outra pessoa por perto, você não saberá o que fazer.
"Ah, mas tudo bem. É, a minha opinião está errada. Terei que arcar com as conseqüências?" Sim, terá. Mas isso gerará amadurecimento. E chegará o momento, em que a sua opinião será a certa. Mas, antes, é comum a sua opinião estar errada. Mas é melhor seguir a sua opinião errada do que seguir a de outra pessoa certa, mas não deixe o erro se incorporar em sua alma. Isso é importante observar. Errar gera conseqüências, muitas vezes, muito dolorosas, mas faz parte do amadurecimento. Isso faz abandonar o erro, não o incorporando à sua vida .É um caminho difícil, mas precisa ser trilhado.

palestra de
Aldomon Ferreira - SVCA

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