Em sua acepção mais simples, podemos afirmar que médium nada mais é do que um ser dotado de qualificações que permitem efetuar o intercâmbio entre o mundo físico e o mundo espiritual e que todos nós o somos. Neste sentido, tanto aquele que vê um espírito e se comunica com ele, quanto alguém que apenas tem uma leve intuição de ir visitar uma pessoa para levar uma palavra amiga realizam esse intercâmbio, representando instrumentos através dos quais a espiritualidade age na vida de outrem.
Dito isso, a grande questão que se faz presente é: se todos somos médiuns, as crianças também apresentam sinais de mediunidade? Sim. É mais natural do que se pensa constatar a mediunidade na criança e no jovem, já que são Espíritos em experiências no mundo material, em processo de desenvolvimento físico, intelectual e moral, através dos quais serão ampliadas as suas potencialidades.
Herculano Pires, no livro Mediunidade, esclarece que as crianças possuem a mediunidade, por assim dizer, à flor da pele, porém são resguardadas pela influência benéfica dos espíritos protetores. Nessa fase infantil, as manifestações, em sua maioria são mais de caráter anímico; a criança projeta a sua alma nas coisas e nos seres que a rodeiam, recebem inspirações de amigos espirituais, às vezes vêem e denunciam a presença de espíritos.
No Livro dos Médiuns, capítulo XVIII, a questão da mediunidade em crianças também é abordada e os Espíritos superiores nos dão - em linhas gerais - duas orientações fundamentais: 1) se a mediunidade não se apresenta espontaneamente, tentar fazer com que a criança a desenvolva precocemente é perigoso e, portanto, não recomendado e; 2) se a mediunidade se apresenta espontaneamente não há perigo para a criança, visto que se é espontâneo faz parte de sua natureza.
Ou seja, não se deve forçar o aflorar mediúnico sob o risco de prejudicar a criança, mas se a mediunidade aparecer espontaneamente devemos lidar com esse fenômeno orientando o pequeno médium a conhecer e exercer a base da doutrina dos espíritos para que ele possa crescer, tornar-se um jovem do bem e esclarecido sobre o dom que possui.
A fim de ilustrar o fenômeno da mediunidade em crianças, vejamos a seguinte história:
Certa vez, um menino se encontrava na casa de um conhecido, brincando com a priminha de cinco anos e mais dois meninos, um de sete e outro de quatro anos. A senhora que residia no térreo chamou-os e ofereceu-lhes bombons, convidando-os a entrar. Estabeleceu-se entre ela e o menino o seguinte diálogo:
- Como te chamas, meu filho? -Eu me chamo Gabriel, senhora. O que faz teu pai?
- Senhora, meu pai é espírita.
- Não conheço esta profissão.
- Mas, senhora, não é uma profissão; meu pai não é pago para isto, ele o faz com desinteresse e para fazer o bem aos homens.
- Meu rapazinho, não sei o que queres dizer...
- Como! Jamais ouvistes falar das mesas girantes?
- Então, meu amigo, bem gostaria que teu pai estivesse aqui para as fazer girar.
- Não é preciso, senhora: eu tenho o mesmo poder de as fazer girar.
- Então queres experimentar e me fazer ver como se procede?
- De boa vontade, senhora.
O menino e seus coleginhas sentam-se ao redor da esa, pondo as mãos em cima. Gabriel faz uma evocação, em tom muito sério e com recolhimento. Para surpresa geral a mesa moveu-se e bateu com força. A pedido do menino, a dona da casa pergunta quem está ali e a mesa soletra: teu pai.
A senhora, muito emocionada, passa a interrogá-lo a respeito de uma carta que acabara de escrever. Pede provas de que era mesmo o pai propondo questões íntimas e todas as respostas foram corretas. As revelações foram demais e ela não conseguiu prosseguir, dominada pela emoção.
O episódio acima é verídico e o menino Gabriel, nada mais é do que Gabriel Dellanne, que cresceu, tornou-se grande amigo de Allan Kardec e foi um dos homens que lutou pelo Espiritismo de forma científica, apresentando suas pesquisas que comprovam a existência da vida além da matéria.
Assim como aconteceu com Gabriel, pode acontecer com qualquer criança, pois trata-se de um fenômeno natural, que não está sujeito nem à vontade dos pais e nem mesmo à da própria criança. O que se pode e deve fazer em casos de mediunidade precoce é em primeiro lugar não ignorar o que está ocorrendo, julgando fenômenos que se repetem constantemente como mera imaginação infantil. Em segundo lugar, recomenda-se um tratamento espiritual, para que os fenômenos sejam afastados e possam seguir o curso normal, reaparecendo, quando o indivíduo estiver em fase mais amadurecida, apto, portanto, a lidar com esse dom. O hábito da prece, aulas de evangelização infantil, passes e água fluidificada representam, também, poderosos aliados neste processo.
Vale lembrar a fundamental importância de os pais não se deixarem envolver por preconceitos e dedicarem-se ao estudo para que possam compreender melhor o que é o fenômeno mediúnico. Cabe, também, aos pais efetuarem pequenas e significativas mudanças na conduta diária em seu recinto doméstico a fim de elevar o padrão vibratório: livros edificantes, bons filmes, comportamento mental e moral de acordo com os ensinamentos do Evangelho são indispensáveis.
Agindo desta forma, aos poucos as manifestações vão diminuindo até que a normalidade se estabeleça, à espera da hora apropriada para o correto desenvolvimento e exercício da mediunidade.
Por fim, e a título de exemplo, disponibilizamos aqui três casos conhecidos e comprovados de mediunidade em crianças.
São eles:
1 - CHICO XAVIER (1910-2002) – Um dos mais conhecidos e respeitados médiuns do mundo, Chico via o espírito da mãe morta e conversava com ela desde os 5 anos de idade. Em 1922, no centenário da Independência do Brasil, ele tinha 12 anos e ganhou menção honrosa quando escreveu uma bela redação sobre o Brasil. Na ocasião, afirmou que um espírito havia lhe ditado o texto. Os amigos duvidaram e acharam que ele tinha copiado a redação de um livro. (...) As visões de Chico fizeram com que ele fosse obrigado pelo pai a freqüentar a Igreja Católica e ele via hóstias brilhando de luz, pessoas mortas sorrindo e carregando rosas. Sebastião Scarzello - padre de Pedro Leopoldo (MG) - nunca duvidou, mas aconselhava Chico a orar mais para afastar aquelas visões”.
2 - DIVALDO PEREIRA FRANCO - Médium baiano, Divaldo é hoje o mais conhecido palestrante espírita do mundo, com milhares de palestras em mais de 80 países e mais de 150 livros psicografados. Ele declara publicamente que vê os espíritos desde criança. Aos 4 anos de idade, viu o espírito de sua avó, Maria Senhorinha, e a descreveu para sua mãe, gerando muito espanto na família católica.
3 - JOSÉ RAUL TEIXEIRA - Médium e conferencista espírita de Niterói - RJ, professor de Física da UFF (Universidade Federal Fluminense) e Doutor em Educação, José Raul afirma que via os espíritos desde criança e, muitas vezes, conversava com eles. Em uma ocasião, ao ver o espírito de um amigo, quase se atirou nos braços dele. Mas a mãe - que também era médium - impediu que o filho se machucasse, pois notou que ele ia em direção ao espírito e o impediu de cair no vazio, quando se atirou nos braços do amigo invisível.
Paz e luz!
Referências:
1- KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns: 2a. ed. São Paulo: FEESP, 1989 - Cap. XXI, q. 221, itens 6, 7 e 8.
2 - PEREIRA, Yvonne Amaral. Recordações da Mediunidade, 5ª edição, Rio de Janeiro (RJ): Federação Espírita Brasileira - Departamento Editorial, 1987. 212 pp., p. 27.
fonte:comunidade Povo de Aruanda,pelo irmão Mestre
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