quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O EGOÍSMO

Não é preciso ser versado em psicologia para perceber que a fonte de todos os vícios que caracterizam a imperfeição humana é o egoísmo. Dele dimanam a ambição, o ciúme, a inveja, o ódio, o orgulho e toda sorte de males que infelicitam a Humanidade, pelas mágoas que produzem, pelas dissensões que provocam e pelas perturbações sociais a que dão ensejo.

Vemo-lo manifesto neste mundo sob as mais variadas formas, a saber:
egoísmo individual,
egoísmo familiar,
egoísmo de classe,
egoísmo de raça,
egoísmo nacional,
egoísmo sectário.

Em seu aspecto individual, funda-se num sentimento exagerado de interesse pessoal, no cuidado exclusivo de si mesmo, e no desamor a todos os outros, inclusive os que habitam o mesmo teto, os quais, não raro, são os primeiros a lhe sofrerem os efeitos.

O egoísmo familiar consiste no amor aos pais, irmãos, filhos, enfim àqueles que estão ligados pelos laços da consanguinidade, com exclusão dos demais. Limitados por esse espírito de família, são muitos, ainda, os que desconhecem que todos somos irmãos (porque filhos de um só Pai celestial), e se furtam a qualquer expressão de solidariedade fora do círculo restrito da própria parentela.

O egoísmo de classe se faz sentir através dos movimentos reivindicatórios tão em voga em nossos dias. Ora é uma classe profissional que entra em greve, ora é outra que promove dissídio, ou são servidores públicos que pressionam os governos a fim de forçar o atendimento às suas exigências, agindo cada grupo tão somente em função de suas conveniências, sem atentar para o desequilíbrio e os sacrifícios que isso possa custar à coletividade.

O egoísmo de raça é responsável, também, por uma série de dramas e conflitos dolorosos. Que o digam os pretos, vítimas de cruéis discriminações em várias partes do mundo, assim como os enamorados que, em tão grande número, não puderam tornar-se marido e mulher, consoante os anseios de seus corações, porque os prejuízos raciais de seus familiares falaram mais alto, impedindo a concretização de seus sonhos de felicidade.

O egoísmo nacional é o que se disfarça ou se esconde sob o rótulo de "patriotismo". Habitantes de um país, a pretexto de engrandecer sua pátria, invadem outros países, escravizam--Ihes as populações, destroem-lhes a nacionalidade, gerando, assim, ódios insopitáveis que, mais dia menos dia, hão-de explodir em novas lutas sanguinolentas.

O egoísmo sectário é aquele que transforma crentes em fanáticos, a cujos olhos só a sua igreja é verdadeira e salvadora, sendo, todas as outras, fontes de erro e de perdição, fanáticos aos quais se proíbe de ouvir ou ler qualquer coisa que contrarie os dogmas de sua organização religiosa, aos quais se interdita auxiliar instituições de assistênca social cujos dirigentes tenham princípios religiosos diversos do seu, e aos quais se inculca ser um dever de consciência defender tamanha estreiteza de sentimentos.

Esse tipo de egoísmo é, seguramente, o mais funesto, por se revestir de um fanatismo religioso, obstando que os ingênuos e desprevenidos o reconheçam pelo que é, na realidade.

Foi esse egoísmo sectário que, no passado, promoveu as chamadas guerras religiosas e a "santa" Inquisição, de tão triste memória, infligindo torturas e mortes excruciantes a centenas de milhares de homens, mulheres e crianças, e, ainda hoje, desperta, acoroçoa e mantém a animosidade entre milhões de criaturas, retardando o estabelecimento daquela Fraternidade Universal que o Cristo veio preparar com o seu Evangelho de Amor.

O Espiritismo, pela poderosa influência que exerce no homem, fazendo-o sentir-se um ser cósmico, destinado a ascender pelo progresso moral às mais esplendorosas moradas do Infinito, é o mais eficaz antídoto ao veneno do egoísmo; praticá-lo é, pois, trilhar o caminho da Evolução e preparar-se um futuro incomparavelmente mais feliz! (Cap.XII, q. 913, L.E.)

Rodolfo Caligaris

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