Reza a Lenda que Orunmila, encantado com as propriedades das folhas, reveladas por Osanyin, decide mantê-lo ao seu lado durante as seções de adivinhação, a fim de guia-lo na escolha dos remédios que devera prescrever aos doentes.
Ambos com o passar do tempo tornam-se rivais, cada um se vangloriando de ser mais importante do que o outro. Osanyin reivindica direito de mais respeito, alegando ter chegado ao mundo antes de Orunmila.
O rei Ajalaye resolve por fim a disputa, submetendo-os a uma prova e os convoca, acompanhados dos seus filhos. Orunmila chega com seu filho Sacrifício e Osanyin apresenta seu filho Remédio. Os dois serão enterrados durante sete dias e aquele que sobreviver a provação e primeiro responder ao chamado que será feito no fim do ultimo dia, verá o seu pai declarado vencedor.
Sacrifício e Remédio foram enterrados em duas covas abertas para a prova. Retornando a casa, Orunmila consultou o oráculo, que o aconselhou a oferecer muito ekuru, um galo, um bode, um coelho, um pombo e dezesseis búzios a fim de garantir a vida do filho. A oferenda foi colocada na estrada, na encruzilhada, aos pés de Esu e no mercado. Exerceu seu poder sobre o coelho sacrificado. Este cavou um túnel até a cova de Sacrifício e a ele levou alimentos.
Remédio, o filho de Osanyin, nada tinha para comer, mas possuía talismãs que agiam sobre a terra e lhe permitiram chegar até Sacrifício. Remédio pediu-lhe comida, mas Sacrifício negou, dizendo que assim estaria assegurando a vitória de Osanyin contra a do seu pai, Orunmila. Afinal, chegaram a um acordo de que Sacrifício daria comida a Remédio, sob a condição de este permanecer calado quando fosse chamado, ao final da prova.
No sétimo dia, os juizes vieram e chamaram em vão, por Remédio. Concluíram que ele estava morto. Em seguida, chamaram por Sacrifício, que respondeu imediatamente.
Sacrifício está são e salvo. Em seguida, sai Remédio, igualmente vivo. Osanyin pergunta ao filho a razão do seu silencio, fazendo com que perdessem a prova, e Remédio revela o pacto feito com Sacrifício.
MORAL DA HISTÓRIA:
Sacrifício não deixa Remédio falar.
Portanto, Sacrifício e mais eficaz que Remédio e, por consequencia, Orunmila ocupa uma posição mais elevada do que Osanyin.
Este itan (lenda – Mito) pretende demonstrar que, embora a presença das folhas seja essencial dentro do culto yoruba, os ritos sacrificais são primordiais. Se, por um lado, o segredo esta nas folhas elas se tornam verdadeiramente eficazes não devido a sua composição química, mas através do encantamento, ofo, que desencadeia o potencial inerente a cada espécie vegetal.
Toda a prática religiosa yoruba se baseia num principio de permuta - que é o que se pode observar em todos os âmbitos da vida no planeta Terra. O processo vital transcorre mediante permanente alimentação e renovação de energias que são alimentadas e transferidas.
A sobrevivência do ser humano na Terra exige sacrifício constante. Sacrifício de tempo, de privação de alguma coisa em detrimento de outra, o sacrifício dolorido das transformações e da oferta de dinheiro obtido a custa de esforço através do trabalho: tudo girando num incessante processo que se resume em dar e receber.
As oferendas sacrificais movimentam ase do fluido vital liberado que, atuando num âmbito não-fisico altera situações indesejadas na vida humana, inclusive de alta gravidade. Os sacrifícios animais praticados pela religião yoruba, alem de movimentar ase, servem para alimentar as pessoas, uma vez que a carne e, na maioria das vezes é consumida.
Cabe ressaltar que, ao contrário do que ocorre nos matadouros, a vida animal que se vai é rezada, e seu espírito encaminhado com todo respeito.
O sacrifício animal costuma causar celeuma em ambientes estranhos a cultura yoruba - alias, ambientes não-vegetarianos. No entanto, curiosamente, não se tem o hábito de questionar como e porque animais são mortos quando se trata de algum petisco gastronômico, um sapato ou casaco de couro ou um tapete de pele que não salvam a vida ou restabelecem a saúde de alguém, mas se destinam exclusivamente a saciar a sua vaidade.
O ser humano, fazendo mau uso do seu livre-arbítrio, muitas vezes se coloca em situações em que a negatividade do seu destino aflora, trazendo desgraças indesejadas. Olodumare ordenou a Orunmila que ensine os seres humanos a restabelecer o ponto de equilíbrio necessário em seus ori, pois, se por um lado, a bondade de Olodumare é evidente, a sua severidade e altamente rigorosa.
EBÓ - OFERENDA
Ebó é um ritual de sacrifício em forma de oferenda, que inclui elementos determinados pelo Odú revelado no oráculo, utilizando energias - ase - dos diversos reinos da natureza para obtenção / reversão.
Vem de bo - alimentar o orisa.
Esta oferenda pode ser animal, vegetal, ou incluir outro tipo de sacrifício.
Os ebós servem como forma de apaziguamento para evitar ou amenizar alguma situação dolorosa, substituição diante de perigo eminente, encaminhamento de bom augúrio.
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