Minha percepção aponta à incoerência como sendo uma das maiores chagas da humanidade. O meio ambiente é assolado por um caos, os líderes mundiais discursam laudas prolongadas e carregadas de efeito, porém, nada é feito, de concreto, para a manutenção do nosso lar. Reclama-se na poluição, mas o lixo continua sendo jogado nas calçadas e nos rios. Constroem-se textos e mais textos relacionados à autoajuda, todos no topo de vendagens, ou seja, são lidos, porém, nem sempre se observam atitudes de mudança e reflexões efetivas sobre si e a relação com os outros.
A incoerência provoca uma separação, uma divisão, com algo ou alguém. Na prática, é o fenômeno de afastamento entre ideias, conceitos e pensamentos com a forma de agir e atuar consigo e os outros que permanecem ao seu redor. Os conflitos e as conveniências estão presentes desde a origem, nos sistemas involuntários, ou seja, aqueles que supostamente não escolhemos, e até mesmo os que pertencem ao nosso desejo e vontade. Inconformidades são notadas nas famílias originais. Desgosto e indisposições nas famílias adquiridas. O trabalho é percebido como obrigatório e meramente uma fonte de crédito para as necessidades materiais. Filhos são queridos, entretanto, em muitos momentos, sentidos como um tipo de incômodo, de aborrecimento.
Deseja-se e se afasta. Princípio absoluto da incoerência. O antagonismo se faz presente e remonta, com frequência, o desconhecido, a insatisfação e o vazio de tantas pessoas. Esse mecanismo dispersa e fragiliza a edificação de fatos consistentes e indispensáveis para o indivíduo e à sociedade como um todo. Além disso, é notória a identificação da frustração e da infelicidade, ou, de uma felicidade situacional e rápida de quem opta. Definições são construídas continuamente em nossas vidas, porém, nem sempre temos consciência daquilo que percebemos. Achamos, porém, às vezes somos tão azarados que não encontramos nada! Em resumo, muitas vezes, àquilo que temos como certo ou verdade absoluta, não o é. Outras vezes, tornamos nossos pontos de vista parciais, aplicados a um segmento e não a outro, bom para mim, mas não para os outros e vice e versa.
As interações devem apresentar um princípio e um fim. O princípio é do bem, conotação ética originada na Grécia antiga. Vejam que a coisa faz tempo que está sendo falada e discursada. O fim é a participação dos envolvidos, colocando em comum algo afim e estabelecendo a obra de alguma coisa. A família, original ou adquirida, o casamento, o trabalho e as vivências sociais, todas, carregam essa demanda, concluindo-se ou não. Nesse terceiro milênio, é pontual a interrupção dessas relações e a condução incompleta dos sistemas que pertencemos. Os lares estão fragmentados, as uniões afetivas desmanteladas, os serviços competitivos e ambiciosos e a convivência coletiva transformando-se numa válvula de escape para tudo isso que não se dá mais conta.
Não somos mais com as pessoas e com os processos. Estamos situacionalmente, para os outros e permanentemente para os interesses e conveniências que nos oferecem conquistas e aparências. A humanidade, cada vez mais, apresenta uma grande dificuldade para sentir, abdicar, renunciar e colocar-se à disposição, desprendido de intenções pessoais e egoístas. Hoje, equivocadamente, conceitua-se à vida que tudo pode e deve ser buscado par alcançar um tipo de êxito solitário e peculiar. Juntar e unir, formando com, deixou de ser valorizado e a aplicação de sua importância está cada vez mais distante do ideal relacional e do que se precisa para o bem estar de todos, enfim, a essência ética pregada pelos nossos amados irmãos e filósofos gregos.
A consequência para esses processos é a perda do sentido e do significado real que a vida nos oferece. Marginalizamo-nos o tempo todo para construirmos ilhas isoladas de satisfação e de aparentes riquezas. Afastamo-nos da essência dos acontecimentos e blindamo-nos da integração oriunda das diferenças que emanam de todas as pessoas pertencentes ao planeta. Assim, escolhemos, continuamente, comportamentos inadequados e nem um pouco saudáveis a serem aplicados no elemento socialização. Competimos, brigamos, conflitamos e chegamos ao absurdo de aniquilarmos os semelhantes e suas iniciativas.
Egoisticamente, adotamos a postura de delegarmos e projetarmos tudo isso para todo mundo, eximindo-nos da responsabilidade dos nossos atos e das nossas próprias opções. Culpamos o governos, os parentes, os patrões e o sistema num todo sobre as dificuldades, anulando nossa participação como parte desse grande todo. Deslocamos, compensamos e substituímos sentimentos e almas, como se fosse produtos nas prateleiras das lojas de 1,99. Racionalizamos, trocamos e antipatizamos. Tudo isso implica, simplesmente, na morte filosófica dos valores e da moral dos homens, hoje, socialmente aceitas pelo fato de terem sido internalizadas pela cultura do mais forte. Por incrível que pareça, isso é identificado, também, nas ordens que pregam a maturidade espiritual e os ritos de religação a Deus. Isso mostra que somos homens, imperfeitos, clamando por algo maior. Entretanto, apenas com a nossa reforma interna e disparando o gatilho da mudança individual é que conseguiremos uma amplitude qualitativa para as sociedades, o mundo e a realidade espiritual.
por: Clécio Carlos Gomes
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