domingo, 13 de setembro de 2009

TEORIA OU PRÁTICA

Qual deverá ser o caminho de uma filosofia ou de um conhecimento?
Ele deverá percorrer da teoria para a prática ou ao inverso?

Antes de continuar, gostaria de contar uma pequena fábula.

Era uma vez uma centopéia. Ia andando Dona centopéia quando foi interrompida por uma linda borboleta que lhe perguntou:
- Dona Centopéia! Como a senhora consegue coordenar o passo de sua 1º perna com o da 45º, assim como, o da 23º com o da 79º ou os das 20º com a 88º?
A centopéia parou, pensou, pensou, pensou e pasmem, nunca mais andou.

Esta fabúla, evidentemente não é minha, escutei-a numa rádio local e peço ao autor que me permita mantê-la no texto, pois ela reflete exatamente a idéia que gostaria de passar sobre o que ocorre hoje em dia com a nossa Umbanda.

Todos sabemos que a prática perfeita de uma ação decorre, sem dúvidas, de uma formulação teórica adequada, mas ninguém duvida ou desconhece que para se alcançar uma formulação teórica adequada ou plausível, muito precisou-se antes, o que se experimentar, principalmente de maneira empírica. Sendo assim, a prática perfeita, ainda que resulte de uma teoria, não depende exclusivamente dela, mas no entanto, a teoria não existirá sem que tenha havido um mínimo de experimentação (prática) anterior.

Nossa religião, ainda que extremamente polêmica, em face de suas origens e compreensões, não possui um compêndio, a exemplo dos grandes conhecimentos, que norteiam a sua prática.
Nossa religião é uma amalgamento de conhecimentos e será nestes conhecimentos originais que deveriamos buscar nossos próprios fundamentos e não em invenções ou histórias baseadas em interesses, na maior das vezes particulares.

Somos oriundos de cultos africanos, disso não há qualquer dúvida, todavia, os fundamentos dos cultos que formaram a Umbanda, não o foram utilizados em sua originalidade, em virtude do sincretismo que sofreram. No entanto, podemos aceitar que além das idéias já sincretizadas, muito do conhecimento original, talvez não tão puro, também nos fora repassado.

Associado a estas informações, nos consubstanciaram, da mesma forma, outros fundamentos resultantes de associações com a cultura indígena, com a cultura espiritual européia e até mesmo com muitos fundamentos da igreja católica.

Tenho dito várias vezes que, apesar de tão associados que somos à outras filosofias, não somos subproduto ou dissidência de qualquer uma delas. Somos uma união de pensamentos, de práticas e de aceitações e somos, por isso, especialmente particulares.

Nossa religião, da mesma forma que a dos nossos irmãos africanos, sempre sofreu uma imensa perseguição e até hoje ainda somos vítimas de preconceitos e intolerâncias, por isso talvez a grande necessidade destes ditos autores, de criarem novidades mais ocidentalizadas, na tentativa de escapar desse preconceito, o que, na verdade, apenas demonstra os seus próprios preconceitos e constrangimentos contra a popularidade e simplicidade de nossa religião.

Desde que os negros africanos, escravizados cruelmente pelo homem branco, eram obrigados a praticarem a sua religião nas sombras da noite e sob o auspício do sincretísmo que todos os fundamentos, conhecimentos e práticas eram passadas de boca a boca.
Quando nos tornamos uma religião com nome e sobrenome, em 1908, pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, ainda que para muitos, como eu mesmo, não existiu nesta data uma criação, mas sim uma socialização, não houve qualquer menção a uma literatura abrangente e capaz de unir conhecimentos ou práticas.

De uns tempos para cá temos visto vasta literatura sobre Umbanda. Tais livros vão do mais completo desconhecimento de nossos fundamentos às mais incríveis visões espirituais, visões estas, quase que próprias de um filme de terror.

São elementos dos quais não se conhece qualquer evidência em verdadeiros terreiros de Umbanda e mais, não se conhece da maioria desses ditos autores, suas reais capacidades no que concerne a definirem como é este ou aquele fundamento, como se processa essa ou aquela ação ou como é na verdade, a essência desta ou daquela Entidade.

Não quero com isso afirmar que não existam autores que não sejam capazes de promover um bom conhecimento através da leitura, muito pelo contrário, muitos são capazes e repassam ensinamentos muito importantes. Mas nenhum ensinamento frio, escrito e morto numa página sem vida, será mais importante que o trabalho diário, a labuta eficaz, a doação particular do médium, principalmente a do Zelador de uma casa. Não pode, o homem, definir como uma Entidade irá proceder na busca de uma solução para qualquer mal, enfermidade ou influência negativa. Não se poderá afirmar, em hipótese alguma, que uma Entidade portar-se-á, manifestado num determinado médium, da mesma forma que se manifesta, a mesma Entidade, em outro médium, submetido à doutrinas, regiões e culturas diferentes.

Não se pode tentar impor à uma Entidade espiritual conceitos de evolução que cada um de nós, meros seres humanos, eivados de deficiências, achamos interessantes e capazes.

A uma Entidade não se pode creditar a necessidade de mostrar-se com uma personalidade, num terreiro e com outra, em outro ambiente, como pretendem propor alguns, que em suas histórias mostram Entidades negras aqui e loiras em outros locais. Não se pode acreditar que a ciência, a qual submete-se cada vez mais a conceitos espirituais, pretenda modificar tais ações. Ciência e Religião devem andar juntas, mas quando qualquer uma das duas tenta se impor à outra, apenas dúvidas e dores serão encontradas.

A mídia, bem trabalhada, faz com que palavras sem nexo tornem-se teses e idéias desconexas fundamentos.

A cada um dos Umbandistas que buscam a evolução, o esclarecimento, enfim, a própria elevação pessoal, tanto espiritual quanto pessoal, recomendo, se me permitem, que procurem estudar, que leiam é verdade, não há problemas quanto a isso, mas que não desprezem nunca os ensinamentos de seus Babalorixás. Não se permitam questionar suas ações apenas porque autor fulano ou escritor sicrano se posicionou de maneira diferente sobre o mesmo tema. Lembrem-se que a maioria dos praticantes de nossa religião, buscou-a quando algum problema os assolava e, ao chegarem às casas, tudo eram flores, não encontraram um erro sequer nas palavras de quem os atendia, toda e qualquer sugestão era acatada com presteza e, no entanto, com o passar o tempo, apenas suficiente para que se esquecessem das dores passadas, muita coisa do que diz hoje, aquele mesmo Babalorixá que os auxiliou nos passado, é questionado e renegado.

Umbanda é caridade, é amor e humildade, mas é também amizade, respeito, e dedicação.

fonte:umbanda de amor

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